domingo, 26 de julho de 2009

Procura-se um AVÔ

Conta um moço, que uma criança anda pela rua, a procurar um avô.
Com seus dedos pequenos e as mãos não tão hábeis, coloca cartazes em cada poste e em cada árvore. Os cartazes só podem ser lidos por gente pequena, devido à estatura do anunciante. O cartaz dizia em letras coloridas e bem grandes:
“Procura-se um AVÔ, com urgência”.
O moço já vira, anúncios de todos os tipos e se espantou com esse.
-Menino! Disse ele. Posso ser o seu avô!
O menino o olhou com cara de espanto. Mas balançou a cabeça tristemente dizendo que não. Então o menino deu uma fungada no nariz e voltou a colar os cartazes.
-Menino, porque não? Perguntou o moço, ressabido e curioso com aquela criança.
- Moço, _senta-se o menino no meio fio, já cansando de tanto andar, e olha com olhos brilhantes para o rosto do jovem_ Você não pode ser meu avô...


“Meu avô tem que ter os olhos brilhantes, de quem tem muito a ensinar, têm que ter historias de heróis, mocinhos e mocinhas mesmo que não seja ele o personagem principal...
Mesmo que ele tenha as mãos trêmulas, ele pode segurar-me no colo.
Mesmo que tenha as pernas bambas, pode me ensinar a andar.
A voz pode ser num sussurro, mas pode soltar gargalhada.
Pode soltar migalhas ao comer sob a mesa, mas não importa moço...
Eu queria mesmo um Avô, já tenho um pai, uma mãe, uma irmã, computador, lápis colorido, carrinhos, peças de montar..., mas eu não tenho um Avô, eu queria passar a mão sob o seu rosto, e sentir cócegas na palma sentindo a sua pele flácida e enrugada pelo tempo...
Ver e ouvir o som de um sorriso cansado, mas com energia suficiente para me aplaudir quando marcar o meu primeiro gol...”


O menino levantou-se do chão, dizendo ter muito ainda aonde procurar, deixando o moço paralisado com os olhos marejados de água.
Ele então num ímpeto de esperança, se atirou na direção do menino pegou em sua mão e passou a colar os cartazes, agora na altura de gente grande.


“Procura-se um AVÔ, com urgência”

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Reminiscência de meio século anterior

Eis que num papel pardo e já amarelado pelo tempo, desgastados por muitas idas e vindas, um bilhete de amor, escrito pelo meu avô para minha avó, fruto desse relacionamento que continua dando certo até hoje:
Reminiscência de meio século anterior:


“Curitiba, 18 de dezembro de 1958

Saudade
D.... é com maior prazer que mando esses cartões para você, como prova que sempre gostei de você, mas nunca deu certo de passear juntos, não sei se gosta de mim, porque sempre tem namorado, mas enfim mando esses cartões para você querida.

Se você quiser escrever para mim o endereço é este:
Rua: .......................
Aqui meu amor vai um abraço do teu e sempre querido
I....G....

18/12/58”


MILLOR

FONTE: http://twitter.com/millorfernandes

sábado, 18 de julho de 2009

Diário de uma viagem

Que lugar é esse,
Onde o matuto queima o cabelo ralo ao sol, fazendo uma leve continência com a cabeça a cada passagem do moço.
Onde o matuto, queima as pontas dos dedos num cigarro interminável.
Senhoras e crianças numa varanda, tomando chimarrão e comendo pipoca, saboreando o passar monótono da vida.

Cada um tem o seu costume,
As suas palavras,
O seu jeito de vestir,
Mesmo que isso, apresente-se estranho aos olhares do viajante.

Onde a cidade inteira em polvorosa, por uma festa tradicional.
Enche o peito de orgulho, ao anunciar na rádio local, o grande acontecimento.
Compra roupas e calçados novos, soltam verdadeiras risadas ao alvorecer, colocam flores e enfeites em cada esquina.
O assunto, a festa, já fora anunciada meses antes, e ainda será assunto nos meses decorrentes.
E o comércio da cidade em grandes cartazes de cores aberrantes, anuncia o ânimo total,
Mesmo que para isso, “assassinem o português”, na suas modestas palavras.

Onde aos se passar por uma rodovia, ao alcance de nossos olhos,
E como se pudesse tocar pelas mãos,
Uma das mais belas paisagens que a natureza criou.
Mas como tudo não é perfeito,
A intervenção do homem, com suas cercas a demarcar o que é de sua propriedade, não podendo assim o mais hábil telespectador resplandecer sob a relva.

Onde montanhas e rios, matos e flores, animais e casebres, entram em sintonia,
Como se fosse um traço perfeito, um corte de roupa sem desalinho, uma caligrafia legível...

Onde um campo retirado da urbanização, resplandece um dos tesouros da humanidade.
O que o homem construiu e o que a natureza preservou, juntos numa grande harmonia,
Sob os olhares atentos, da mulher de estatura mediana e óculos de aros grossos,
Talvez já faça parte do museu, uma peça rara, de alegria e de conhecimento.
Onde passado e presente se fundem numa arquitetura só.
Peça de uso dos índios, que há muito já caiu no esquecimento, com um elevador dos mais modernos.
Escavações remanescentes de séculos anteriores, com a marca de sapato, deixadas no tapete por um visitante desatento.
Animais em total extinção empalhados aos olhares curiosos, com a mosca a incomodar o sono do guarda.
Onde o jardim parece um quadro pintado pela mão do mais belo e comprometido artista da natureza, contrastando com uma latinha de coca cola, jogada pelas mãos de mais um ignorante.

domingo, 12 de julho de 2009

Frio. II




Frio é bem vindo, para alguns.
O frio faz a família se reunir em volta do fogão.
Faz o casal de enamorados, fazer as pazes.
Faz a criança, se aconchegar ainda mais no abraço quente da mãe.
Faz a cuia e o chimarrão, serem parte do vestuário.
Faz o homem deitar mais cedo.
Faz o chá fumegar na xícara, e o chocolate quente aderir ao cardápio.
Faz a pele enrubescer, o cabelo esvoaçar, o ancião tossir e o menino sorrir.

sábado, 11 de julho de 2009

frio


Frio.
Frio é melancólico para alguns.
Tristeza para outros.
O frio congela os ossos, deixa duros os dedos até dos mais ágeis digitadores.
Faz emudecer a menina que chora a noite.
Faz o lampião apagar constantemente.
Faz a chaleira gritar em prantos no fogão.
Faz a lenha crepitar, num desassossego constante.
Faz o céu brilhar, num azul cor de anil.
Faz a pele enrubescer, o cabelo esvoaçar, o ancião tossir.

VISITAS DESDE 01/03/09