Ouço seus passos firmes e fortes. Mas agora onde estarão eles? Se nem o rugido das tábuas soltas, não se ouve mais. Não se ouve mais aquela voz firme, mas sim a voz de medo de que a deixemos sozinha ou que estamos a enganando, com os desatinos de uma doença que prega peças terríveis em sua cabeça, memórias que vão aos poucos sendo apagadas, ou que de repente somem e a deixam sozinha sem ponto de referencia de lugar nenhum.
O coração bate, mas e as lembranças, saudades, a história de sua vida, onde estarão elas? Memórias que jamais serão resgatadas? Memórias perdidas e doídas como lanças de facas no vazio e desvarios de uma doença que há tantos nos assustam, mas que não queríamos que chegasse...
Chegou tão depressa, mas há tempos ouvimos o seu sinal, mas como um trem que sentimos a sua fumaça de longe e que não queremos nunca ir ao seu encontro, assim a tratamos. Mas enfim ela chegou e bateu a nossa porta. Nossos corações apertados tentam resgatar as forças a esperança de que nada de mais seja, porém temos a clareza, de que o caminho será longo...
Pedimos a Deus então a força para que não desanimasse, pois o tempo passou agora as coisas se tornarão mais difíceis, e que a nossa Vozinha, da qual tantas vezes seguramos a sua mão e sentimos ali uma presença forte, da qual pedíamos conselhos, refugiamos em seu colo quando nos sentíamos acuados, pedindo a sua proteção e acalento...
Hoje nos deixa claro que os papéis se inverteram...
Hoje somos nós que temos que a entender, ouvir, calar, sorrir, acarinhar, segurar sobre nosso colo,
e amar ainda mais e mais...