domingo, 6 de fevereiro de 2011

Espetáculos de marionetes

Do lado esquerdo do palco, ele. Para mais uma noite, mais uma noticia. Estudo, conhecimentos, influencia, poliglota. Vive num mundo cor – de – rosa, (talvez se de conta de algumas cores escuras ao redor), só seu, ilusório para a maioria.

Do lado direito do palco, ficam eles, longe das luzes, das câmeras, do glamour...

Ele, com seu penteado perfeito, terno sobre medida e hálito fresco.

Eles com roupas doadas, números maiores. Calçados? Talvez.

Ouve-se os acordes, e a plaquinha piscando: NO AR.

O palco muda, a platéia se mexe no lugar, inquieta com as cenas do lado direito e atenta as palavras do lado esquerdo.

Ele já as pontuou, com seu apetite voraz de quem quer mais e mais, expor suas marionetes.

(há esqueci-me de dizer, as marionetes é o lado direito do palco)

Muda o tom da voz, expõe o sufoco dentro do personagem que se interpreta para alcançar seu fim. Assume para si, a real fantasia das marionetes. A platéia se mexe e remexe.

Ele então desnuda em palavras a situação das marionetes, e eles cobrem o rosto de vergonha.

Agora sim.

Ingenuidade?

Os grilhões das luxurias, sentem-se acalorados, os mesmos que ataram os tornozelos das marionetes, sentem-se na obrigação de ajudá-los.

Pagamento em espécime pela dor alheia? Eles acham justo. Pagamento pelos lares soterrados? Eles acham justo. Pagamento pelas vidas sufocadas por toneladas de terra? Eles acham justo. Pagamento pelas milhares de crianças, que estampam em seu rosto a tragédia? Eles acham justo. Pagamento pelos olhos esbugalhados dos avós que perderam tudo? Eles acham justo. Pagamento pela inversão de valores, onde os filhos vão e os pais juntam os restos de brinquedos de seus corpos pequenos? Eles acham justo. Pagamentos pelos pais e mães que se foram e deixaram centenas de filhos ao léu? Eles acham justo.

Então pegam o telefone e debulham os dedos em números de 0800...

Se não fosse o teatro e a orquestra que da o tom solene. Os jornais e revistarias não encheriam as capas com os rostos das marionetes. Eles conseguiram ser capa nas maiores revistas e estampadas nos maiores jornais, de todos os continentes.

As televisões ansiosas por aumentarem a audiência, trocam o palco.

Tudo se desmoronou. Sonhos. Interesses. Conflitos pessoais. Amores. Desentendimentos. Ironias. Risos. Sucesso. Calor. Acolhida. Restou-lhes somente o cheiro da morte.

Continuam ao lado direito do palco murmurando: “por que...”, “por que...”, “por que...”

Os outros, tornam-se alheios as vidas que foram ceifadas inutilmente e as vidas tão dolorosamente marcadas. Eles que estão sempre em rádios, Tv’s, jornais e revistas. Esquecem-se da dor outrora e fazem chacotas, risos, ironias, piadas...

Mas há aqueles clamores, que são escutados pelas vigílias, que de mãos dadas rezam por seus filhos que se foram, e principalmente por aqueles que aqui restaram.

O palco muda de cena outra vez.

Tudo se esquece, esquece-se do mais importante. Vidas se acabaram, na cidade que nunca dorme, no meio de luzes, glamour, fama e sucesso.

A orquestra acaba de fazer soar os últimos acordes. Já não há mais público a assistir. E aquelas vidas, aquelas marionetes ceifadas, já não fazem parte do roteiro principal.

A peça termina. Cai o pano no palco das marionetes.

E eles?

Apertamos com o dedo o botão da televisão, deitamos a cabeça no travesseiro. Esquecemos de todos perdidos no fundo do teatro, a própria sorte.

2 comentários:

Suzi disse...

Passei pra dar um alô e ler teus escritos.
Vou virar habituê!
beijos

M.Maria M. Coutinho disse...

Agora sim! bjo

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