domingo, 17 de agosto de 2008

Memórias de Nona

Nona lembra do seu passado, de quando era jovem, não tinha tv na sua casa, (deve ser por isso, que hoje ela assiste bastante), só radio, mas o radio naquela época era proibido. Nona diz que era proibido, por causa das “revoluções” que aconteciam no mundo.
Nona era de uma família com muitos irmãos e irmãs, e ela era uma das mais novas, quando, suas irmãs começaram a freqüentar bailes e arranjar namorados, ela tinha que acompanha-las, porque elas não podiam sair sozinhas com os namorados.
Ela conta que nas matines onde freqüentava nunca ficou no banco fazendo crochê.
-Nona, o que é isso? Fazendo crochê?_perguntei a ela.
Ela deu risada e respondeu:
- Ai! Como não sabe? Fazendo crochê, é o mesmo que encalhada, naquela época.
Foi ai que, ela aprendeu a dançar, e não fazia buraco no chão, sabia dançar, afirma ela.
- O que é fazer buraco no chão? _voltei a perguntar.
-É quem não sabia dançar direito, daí não usava todo o salão e ficava fazendo buraco! Isso na época até virou uma musica! (gírias de Nona).
Nona afirma categoricamente que teve muitos namorados, mas não lembra de todos.
Como um italiano de nome Guido, que se apaixonou por ela, “ele era um rapaz belo, cento por cento, a mãe também era muito, boa, chegou até a fazer uma novena para mim se casar com ele”. Esse italiano era ilegal no Brasil, e pediu um tempo para Nona, para que depois que acabassem as revoluções, ele arrumaria os papeis e eles iriam se casar. Mas Nona, como sempre teimosa, não aceitou e com raiva tratou logo de arranjar outros pretendentes.
Durante esse tempo, esse moço foi para a casa de alguns parentes, e em Santa Catarina, abriu uma cervejaria, quando acabaram as revoluções.
Muito tempo depois, Nona volta a encontrar ele, quando ela já estava viúva, com duas filhas e ele não tinha se casado ainda, voltaram a conversar sobre casamento, ele prometeu a ela que se casaria com ela. Mas Nona, tinha medo, por ele ser um empresário,ainda solteiro, casar com uma viúva com duas filhas, não ia dar certo. Ele disse, que mandaria as meninas para uma colégio interno, e depois de um ano, traria elas para a casa e não estaria nem ai, com os comentários.
Mas Nona, achou por bem, continuar sozinha.

Nona continua contando dos seus namorados, mas afirma, que não é “isso” que é agora, eles iam juntos para as matines, se viam apenas aos domingos, mandavam cartas, etc. E que todos era de famílias boas, que quando tinha 15 anos, já tinha dois pretendentes para casar, com 17 três, e com 19 enfim se casou.
E tem muito mais historias de namorados da Nona, vou contar em doses homeopáticas.

Mas Nona se lembra, daquele que foi o fundador da família Terribile, e com lagrimas nos olhos, diz que escolheu o melhor de todos, que Deus o fez e jogou a forma fora. Nona enxuga uma lagrima solitária que rolou sobre o seu rosto, e dá um longo suspiro, ao se lembrar que ele morreu apenas aos 24 anos de idade, e que como tudo seria diferente se ele não tivesse partido.

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